Coreologia Flamenca

MÉTODO COREOLÓGICO FLAMENCO 

(COREOLOGIA FLAMENCA)

Dança flamenca com método

Em 1990 uma metodologia bem específica, denominada Método coreológico flamenco, que conta com o desenvolvimento e aplicações de um sistema coreológico vinculado à um sistema prático corporal associado, diretamente à estrutura e comunicação inerentes ao universo flamenco, foi criada por Cylla Alonso e vem se atualizando e crescendo, juntamente com o flamenco, ao longo dos anos.

Este trabalho, desenvolvido no Brasil e levado para a Espanha em 2005, dedicado ao baile flamenco e estendido à área de música e ritmo, é uma  metodologia integrada de linguagem com desenvolvimento de pesquisa, conceito + teorização + prática + técnicas gerais.

Deixo aqui para vocês um pequeno apanhado de informações.

Boa leitura.

ALGUNS CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Escrevendo sobre a coreologia flamenca para o universo virtual, noto cada vez mais a importância do desenvolvimento da organização e escrita que traduzem processos corporais e elementos envolvidos nos processos metodológicos que envolvem o estudo da dança fora do corpo para que as potências corporais sejam cada vez mais conscientes nos seus campos de atuação. 

Para que possamos entender melhor um pouco do método e quais são os diferenciais, deixo aqui alguns conceitos importantes: 

Conceito é a compreensão que o ser humano possui em relação a uma palavra ou situação cotidiana.

Método é a maneira de como o conceito é aplicado. É uma palavra que provém do termo grego methodos (“caminho” ou “via”) e que se refere ao meio utilizado para chegar a um fim, podendo referir-se a diversos conceitos. Enquanto termo, método também é usado para o método experimental, que possui certa semelhança com o método científico, onde são realizados testes, medições e análises quanto aos efeitos de determinada situação.

Método científico é o conjunto das normas básicas que devem ser seguidas para a produção de conhecimentos que têm o rigor da ciência, ou seja, é um método usado para a pesquisa e comprovação de um determinado conteúdo. Ele é parte da observação sistemática de fatos, seguido da realização de experiências, das deduções lógicas e da comprovação científica dos resultados obtidos. Para diversos autores o método científico é a lógica aplicada à ciência. Como é um trabalho sistemático, na busca de respostas às questões estudadas, é o caminho que se deve seguir para levar à formulação de uma teoria científica. É um trabalho cuidadoso, que segue um caminho sistemático utilizado como a ferramenta do pesquisador, que no fim de seu processo de pesquisa, explica e prevê um conjunto de ocorrências provenientes da aplicação de suas teses. O método científico é uma forma de comprovar a veracidade de algumas teses desacreditadas pelo ceticismo. Em contraposição ao método científico, está o método empírico, que é baseado unicamente na experiência, sem nenhum processo científico.

Flamenco é um termo geral que se refere a uma linguagem artística de música, canto e dança cuja origem é associada à região da Andaluzia, na Espanha e que tornou-se um dos símbolos da cultura espanhola. Se confere à palavra flamenco a um gênero artístico pois o flamenco não é um ritmo específico e está dividido em diversos estilos (os palos flamencos), cada um deles com suas características particulares. 

Em 16 de novembro de 2010, o flamenco foi declarado património cultural imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Desta forma, o flamenco está em vários países e conta com profissionais (artistas e professores) de todas as partes do mundo, conectados pela Arte Flamenca como idioma. Conta com a relação e expressão espontânea ou convencionada (marcada anteriormente) entre músicos e bailarinos, tendo o cante, a guitarra, o baile e a percussão como elementos principais. 

No flamenco, no cante e na guitarra (violão) temos músicos concertistas e músicos para baile como duas áreas diferentes. Além do corpo, das mãos e da percussão dos pés, outros elementos diferenciais podem ser inseridos em certos palos (estilos/ritmos) como as castanholas, o leque, o xale, a bengala e a bata de cola. Recentemente, a nível histórico, o cajón foi introduzido no flamenco enquanto instrumento de acompanhamento ressaltando nuances musicais além da tradicional palma que acompanha a guitarra e o baile.

O termo nasce com um sistema coreológico (metodologia) criado e aplicado por Rudolf Laban, que deu vazão ao reconhecimento desta terminologia em Würzburg, Alemanha, em 1926.

É importante ressaltar que já existiam estudos e desenvolvimento de notações de dança muito antes de Laban e muito antes que pudéssemos nos referir à elas como um termo técnico, como é o caso, segundo Eliza Gaynor, da notação Feuillet com algumas escritas de passos, voltas e posições que já existia em 1713 e o sistema de notação gráfica da dança ainda mais antigo, desenvolvido por Pierre Beauchamp, na década de 1680 e publicado na obra Chorégraphie, ou l’art de d’écrire la danse (1700).

Raoul Feuillet (c. 1653 – c. 1709) foi um coreógrafo e teórico da dança da França, lembrado pela divulgação do sistema de notação gráfica da coreografia. Esta obra foi traduzida para o inglês e se tornou influente, sendo precursora do processo de teorização da dança francesa.

Em 1680 alguém já saia do corpo para pensar sobre os movimentos, as técnicas e a criação de sequências que dele nasciam. 

A COREOLOGIA FLAMENCA

Sistema de notação gráfica específico da linguagem e da dança flamenca que pertence ao Método Coreológico Flamenco de Cylla Alonso (Brasil), desenvolvido em 1990 e em atualização constante, com base em método científico. Cria e possibilita a elaboração e compreensão dos elementos e a criação de ferramentas flamencas, bem como a integração desses elementos, através da escrita, permitindo também a notação de passos ou coreografias para além do processo didático. 

Através da observação, experimentação, dedução e teorização de conceitos flamencos não disponíveis academicamente no flamenco espanhol, desenvolve metodologicamente a escrita correlacionada diretamente à prática, onde tudo que acontece na dança, desde a ligação de diferentes combinações de velocidades entre nossos pés, braços, mãos e corpo, estão interligadas graficamente à percussão dos pés, ao compasso, à acentos e a estruturas que nos unem por sua vez às específicas estruturas da música, da percussão, das palmas e do cante, possibilitando assim uma via sistematizada que decodifica elementos não verbais e estruturais do flamenco que permitem a comunicação corporal que ocorre no flamenco em forma de diálogo com as estruturas melódicas dos cantes e/ou na estruturas harmônicas da guitarra.

Sistema de notação gráfica específico da linguagem e da dança flamenca que faz parte do Método Coreológico Flamenco de Cylla Alonso (Brasil), desenvolvido em 1990 e em atualização constante, com base em método científico. Possibilita a elaboração e compreensão da percussão dos pés, organização do corpo e elementos criando conceitos, escrita e ferramentas práticas que permitem a compreensão da integração desses elementos, permitindo também a notação de passos ou coreografias para além do processo didático.

A coreologia flamenca parte de uma ciência (ou estudo) do registro por escrito de um contexto coreográfico, estrutural ou coreografia. Dito isto, o termo nasce da transposição da dança para um universo cujo estudo lê e transcreve o corpo em movimento e suas relações fora do próprio corpo. Sendo o flamenco uma arte com inúmeros diferenciais com relação à outras artes dançadas, exige uma compreensão de um “todo” que na maioria das vezes não é consciente (e, por isso, não é acessível como ferramenta) ao bailaor flamenco ou para o professor.

Oferece uma metodologia para criar e reunir as técnicas do corpo aos elementos rítmicos que o próprio bailor produz, unindo também o corpo às estruturas musicais da guitarra e logo do cante (bem como suas possibilidades de comunicação) e, principalmente unindo tudo ao universo das estruturas de baile e das suas mobilidades, da qual a coreologia flamenca fala desde sua criação. 

É importante dizer que a coreologia flamenca cria alguns termos para designar certos elementos mais específicos da estrutura da música e também da estrutura do corpo em determinadas partes do baile, como, por exemplo, os termos frase musical, partes do baile, frases da letra, códigos de baile que não são utilizados na Espanha no aprendizado flamenco mas que fazem parte da metodologia desde 1990 tendo significados bem específicos no processo.

MÉTODO COREOLÓGICO FLAMENCO

Metodologia de ensino e desenvolvimento do flamenco, criado em 1990 por Cylla Alonso (Brasil), que conta com a coreologia flamenca (grafia dos elementos pertinentes ao universo da dança flamenca), cujo método prático une as técnicas corporais gerais e específicas da dança flamenca associadas ao conteúdo rítmico, estrutural e musical e suas diversas possibilidades de mobilidade e utilização dentro da linguagem flamenca, considerando em seu desenvolvimento conceitual e prático, o ensino e elaboração dos padrões corporais e padrões de comunicação entre os elementos (cante, guitarra e percussão) no diálogo ao vivo que ocorre no flamenco. 

O Método desenvolve os conceitos da organização rítmica e percussiva para a linguagem flamenca utilizando uma lógica técnica nos pés que possibilita uma ponte facilitada com os músicos e o universo musical. 

Além de toda a sua parte técnica corporal, também fala nas necessidades da compreensão das diferentes velocidades de conexão entre as mãos, os braços e a percussão dos pés, da compreensão e domínio dos compassos, divisões rítmicas, cantes, melodias, frases musicais rítmicas de baile, estruturas de baile, estruturas das partes, consciência e domínio dos códigos de baile desde 1990 (quem tem alguma apostila antiga pode conferir, rsrs). Hoje vemos um movimento flamenco por parte de alguns profissionais que adquirem, procuram e propagam um conhecimento mais profundo sobre as verdadeiras necessidades desse corpo e dessa escuta flamenca, bem como sobre as importantes entrelinhas que nos conectam com os músicos (não somente com a música, pois somos parte atuante dela) e com o sentido do nosso discurso corporal já ressaltado por Antonio Gades na década de 80.

Um dos fatores predominantes é que permite a compreensão do flamenco na prática e na escrita, onde tudo que acontece no baile, desde a combinação de velocidades entre nossos pés, braços, mãos e corpo, está ligado ao compasso, à acentos e a estruturas que nos unem às estruturas da música, da percussão, das palmas e do cante. E, no caso da forma flamenca onde há ausência de andamento (formas de característica denominada livre), nossa comunicação corporal se dá baseada na estrutura melódica do cante e/ou na estrutura harmônica da guitarra.

O método dá acesso à linguagem flamenca para qualquer pessoa e aos profissionais formados ou em formação, ele oferece mais do que passos, atentando à diferença entre informação e conhecimento revelando o que estamos fazendo e, principalmente, o porquê das nossas ações no corpo e na música.

Se consideramos o flamenco como um idioma, o método compõe as letras, as sílabas, as palavras, as orações, os textos e depois vai desenvolvendo mais ferramentas para que os estudantes possam se expressar livremente com fluência através delas.

NOTA ESPECIAL 

Para quem já faz flamenco

Aprofundando um poquinho para quem já dança flamenco e gostaria de saber quais os recursos que o método oferece, deixo aqui um resumo dos nossos principais processos.

Elaboramos primeiramente o conhecimento e as técnicas de forma isolada criando nossas primeiras perguntas e respostas mais profundas sobre tudo aquilo que sempre fizemos e não somos conscientes do porquê ou para quê. Os estudos práticos e conceituais são todos separados e abrangem todas as áreas: técnicas de braços, mão, giros, técnica de sapateado, passeios e marcações, estruturas primordiais do corpo flamenco, códigos corporais elementares, musicalidade dos palos, frases musicais, palmas de base, divisão rítmica nos compassos, introdução à coreologia e sistema de notação, e assim por diante. 

Em sua sequência, vem a parte mais densa e profunda do estudo flamenco onde o método efetiva a CONJUNÇÃO dos elementos adquiridos entre técnicas corporais gerais + técnicas percussivas + estruturas primordiais de baile + conceitos de cada parte do baile + características estruturais de cada palo + códigos de baile na comunicação + formas estruturais + comunicação musical e percussiva + diálogo entre elementos + estudo e notação rítmica da linguagem + da rítmica + do movimento + das estruturas + notação da elaboração dos conceitos da linguagem. Tudo isso em trânsito constante de conhecimento entre a mente e o corpo (fazer e saber/saber e fazer).

Seguindo pelo método, todo o conteúdo anterior será conectado diretamente à expressão, ao uso das ferramentas que foram desenvolvidas, a criação de uma personalidade artística, apostando na expansão do vocabulário corporal e rítmico, na criação junto aos músicos com fluência de comunicação, mantendo sempre abertas as atualizações de referências técnicas e expressivas para os estudantes e o método possam seguir sempre crescendo. 

30 anos de método e diferenciais

Falar de método flamenco, desenvolvimento coreológico, teórico e estrutural num universo de dança dentro e fora do corpo, é ousado, ainda mais no flamenco. Mais ainda, se pensarmos que suas bases foram construídas há 30 anos atrás.

O método fala em técnica, estudos da percussão, dos pés e palmas como instrumento, das estruturas de baile, dos códigos de baile, das formas do baile e da comunicação entre os elementos há 30 anos e somente nos últimos 14 anos temos acompanhado o aparecimento das inquietudes sobre estes temas, que geram novos tipos de aulas mais específicas, na Espanha e no mundo.

Quando cheguei na Espanha, em 2005, pude constatar que o flamenco é linguagem sim e que como toda linguagem que permite comunicação e criação, as regras estavam ali presentes nos corpos, nos cantes, nas guitarras, nas palmas, nas aulas, nas juergas do bar e na vida flamenca.

Confesso que, um mês depois de fazer parte deste cenário internacional, me dei conta que minhas pesquisas desenvolveram perguntas e respostas muito precocemente mas era visível que se tornariam (tornam ou tornarão) ferramentas para os corpos flamencos dentro de um processo de evolução (ou revolução, talvez) necessários nos setores de ensino e dança flamenca propriamente dita, porque o baile flamenco vem se desenvolvendo e se rebuscando mais e mais.

Muita gente acredita que a parte coreológica do método ou a coreologia flamenca é apenas uma escrita rítmica desenvolvida para anotar, porém, está muito mais ligada ao “todo” estrutural e à comunicação de forma prática, do que apenas à parte rítmica propriamente dita.

Meus 7 anos trabalhando na Espanha, me deram mais estudos, pesquisas, experimentações, visão de tendências e, principalmente, trabalhando como professora de baile flamenco com meu próprio método, estes anos lá me trouxeram algumas experiências didáticas que saem dos questionamentos brasileiros sobre esse corpo brasileiro no flamenco e entram num mundo com questionamentos e necessidades de diversas nacionalidades, inclusive do próprio flamenco espanhol, permeados pelas próprias histórias pessoas, por diversas culturas e pelas mais diversificadas formações em dança, onde o flamenco precisa se fazer possível.

Dança flamenca com método online na pandemia 

Todos estamos passando juntos por essa fase de pandemia, restringidos pelos riscos de contaminação, mas como a arte sempre encontra uma forma, durante estes tempos de isolamento, o método coreológico flamenco está disponível online para aulas em grupo e particulares, concentrado nas ferramentas coreológica e nas estruturas musicais.

Contamos com o desenvolvimento material gráfico virtual que antes era construído na lousa, junto com os alunos, e que agora é exibido durante as nossas aulas virtuais que estão acontecendo pelo jitsi e hangouts.

Nossas turmas estão limitadas a 10 alunos para um melhor aproveitamento.

Muitos dos nossos alunos moram em apartamentos e não podem sapatear e, por isso, estamos com um conteúdo super diferenciado nesta quarentena. Tem novas turmas para você se inscrever. Se você mora em casa, não perca as novas aulas a partir de 1 de setembro que estarão mais em contato com nossos corpos e que serão transmitidas pela Casa em Si e pelo Stúdio Cylla Alonso.

Se você ainda ficou com dúvidas, mande um e-mail para epcasaemsi@gmail.com ou um whatsapp para 11 984 66 48 66. 

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