POR QUE A DANÇA É ESSENCIAL?

Como definir as “essencialidades” do mundo?

No meio de uma pandemia, seria realmente possível considerar essencial qualquer coisa que vá além do que nos mantém vivos como: respirar, hidratar e alimentar? O equilíbrio e bem-estar físico, mental e emocional estão além das nossas necessidades básicas ou fazem parte delas?

Na história atual que estamos escrevendo (simultaneamente, mas, seguramente, não em conjunto) a Dança ficou em terceiro plano, preterida e sem, ao menos, uma menção específica nas idas e vindas das atividades consideradas nas restrições. 

No contexto da dança na pandemia, (separando a área de espetáculos nesta pauta) escolas, estúdios, aulas, professores, alunos e atividades têm obedecido os protocolos dedicados às academias de ginástica e musculação, que pouco (ou quase nada) tem a ver com o trabalho artístico, levando a dança, e tudo deste setor, à uma espécie de invisibilidade profissional e social no que se refere a sua real importância.

Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! (Friedrich Nietzsche). 

Falamos nos últimos 14 meses em um aumento considerável de crises de depressão, ganho ou perda excessiva de peso, apatia, ataques de pânico, crises de ansiedade, desmotivação … Estamos nos referindo à saúde mental? Sim. E onde entra a dança? Na saúde geral do indivíduo enquanto atividade que trabalha a melhoria do equilíbrio químico, do prazer, autocuidado, da atividade física, do pertencimento e da ressignificação das experiências atuais através da arte.

A Dança trabalha o corpo desde uma percepção também interna, ocupando-se de mover o corpo (enquanto técnica) fundamentalmente associada aos aspectos da mente e da emoção do indivíduo, liberando e transformando assim o stress emocional, mental e físico de forma completamente diferente da malhação.

Liberadas na dança, a dopamina, serotonina, endorfina são substâncias químicas produzidas pelo cérebro, essenciais para o desempenho de diversas funções físicas e psicológicas, e estão relacionadas às sensações de motivação, alegria, euforia e ao bem-estar geral.

Então a dança é essencial? Sim, porque a dança traz equilíbrio químico, físico, emocional e, principalmente, porque saúde mental não é sobre não sentir coisas ruins, é sobre não deixar que elas te dominem. A dança se faz de dentro para fora. 

Até a dança que não rebola tem descido até o chão com as demandas, tratando de se adequar as aulas online, que tem sido ministradas com inúmeras dificuldades por todos os lados. Nem todos tem equipamentos, nem todos tem boas conexões, professores não podem ministrar as aulas na sala de dança quando há fechamentos do comércio, existem conteúdos impossíveis de serem desenvolvidos na casa de muitos professores e dos alunos…

Convenhamos. A dança está dando um show de resiliência e criatividade no seu ambiente interno, cujo trabalho não tem tido alcance para ser exaltado, discutido, nem recompensado com uma possível revisão. O movimento precisa do espaço, o corpo precisa do piso apropriado, o aluno precisa do professor, o passo precisa de liberdade sem pisar no gato ou bater nos móveis, a música precisa estar sincronizada com o corpo sem os atrasos da internet, mas a dança finge que essas demandas não são empecilhos gigantes e segue dançando, porque a dança nos é necessária, porque ela nos organiza, nos equilibra, nos exercita, nos expressa e nos relembra quem somos.

Sem aglomeração e com todos os protocolos de segurança, a dança apenas constata a sua essencialidade e se entristece com sua invisibilidade em um momento em que o mundo precisa urgentemente dançar pela saúde, não pela poesia.

Se a dança não te parece essencial, observe seus amigos que seguiram dançando e os que pararam durante a pandemia. Você notará que todos sofrem os efeitos dos tempos que estamos vivendo mas também verá que o enfrentamento desta situação terá muitas diferenças de um grupo para o outro.

Mais do que nunca, além de uma atividade, a dança é um medicamento preventivo contra a tristeza e a ansiedade que baixam a imunidade e se tornam uma porta aberta para o vírus.

Vai passar. Enquanto não passa, dancem !!!

Cylla Alonso

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